setembro 26, 2013

Entre expressionista e cabralina,  Micheliny Verunschk

faz uma poesia que respira.

Aridez e seus exílios;  fluidez que nos arranha.

A presença dolorosa do deserto

Teu nome
é meu deserto
e posso senti-lo
incrustado
no meu próprio
território
como uma pérola
ou um gesto no vazio
como o amargo azul
e tudo quanto
há de ilusório.

Teu nome
é meu deserto
e ele é tão vasto,
seus dentes tão agudos,
seus sóis raivosos
e suas letras
(setas de ouro e prata
dos meus lábios)
são meu terço
de mistérios dolorosos

O trabalho do amor
é essa carne
essa úlcera
ardendo
no centro da palavra
esse passado
de dentes afiados
essa rede de nervos
fluxo de sangue
ininterrupto
essa saudade
que se chama
fome
pânico
um cigarro
acendendo
a madrugada.

(…)

O Búzio de Cós

O búzio

sobre o móvel

celebra

o único mar

possível:

o mar cristalino e lúcido

a se quebrar

nas páginas

desse livro.

– 

Micheliny Verunschk é autora de Geografia Íntima do Deserto (Landy, 2003), amo esse título, de O Observador e o Nada (Edições Bagaço, 2003) e de  A Cartografia da Noite (Lumme, 2010). É mestre em Teoria e Crítica Literária e atua na área de Jornalismo Cultural.