As vozes resistem, ecoam sob o sol…
A natureza lunar assusta? Onde mora o espanto?
Quem vai insistir nessa hegemonia surda,
pautada no macho-adulto-branco?
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Indiazinha Wewei Asurini, foto de Karina Menezes.
Pintura feita pela avó.
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O nevoeiro da vida, foto de Josefina Melo.
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Eu mesma deixei de entender a minha substância:
tenho apenas o sentimento dos mistérios que em mim se equilibram.
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As palavras que escutava
eram pássaros no escuro
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Desenrolei de dentro do tempo a minha canção:
não tenho inveja às cigarras:
também vou morrer de cantar.
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MEIRELES, Cecília. Viagem & Vaga Música. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2006. p. 61; p. 16; p. 25.
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Olhar, foto de Eva Pinto.
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(…)
o sonho balbuciava em nós
seu canto efêmero
o vento e o outono numa solidão
eu te dizia
deixe teus pés nus sobre a terra molhada
uma rua branca
e uma árvore
serão minha memória
dá os teus olhos ao horizonte que canta
minha mão
suspende a cabeleira do mar
e roça tua nuca
mas tu tremes no espelho do meu corpo
nuvem
minha voz
te leva rumo ao jardim de árvores prateadas
era uma primavera aberta sobre o céu
ele me deu uma criança
uma criança que chora
uma estrela dividida
e meu desejo se separa do dia
eu o recolho numa folha de papel
e vou esconder a loucura
num rochedo de solidão.
–
JELLOUN, Tahar Ben. As cicatrizes do Atlas. Brasília: Editora UNB, 2003. P. 23-25