Eu não quero ler com os olhos do passado.

Nem tampouco me submeter aos teóricos de sua predileção, como se não existissem outros.

 

Já ouviu Pérolas aos Poucos, de José Miguel Wisnik?

E Palhaço, de Nelson Cavaquinho?

 

Professores mofados nos seus gabinetes,

com suas punhetas historiográficas,

levam Antônio Cândido para passear na coleira,

e “transformam Oswald de Andrade em um poodle”

 

De quais palavras você tem medo?

Eu sinto medo de atitudes equivocadas com palavras corretas.

 

Você segue cartilhas e se irrita facilmente.

Procura conceitos teóricos no dicionário

E não os encontra.

(?)

                        [Vale comentar?

 

Assume o tolo discurso da gramática sobre o conteúdo,

Entretanto, erra as regências. Não percebe,

insiste na “correção”

e confirma, altiva, seu lugar de poder.

 

Eu prefiro “a rua é noiz” de Emicida

e toda a sua potencialidade lírica-

plurissignificativa.

                        [Vou ter que explicar?

 

Ego regado a mediocridades e bônus salarial!

 

Pós-doutora não sabe o que é semântica, mas nunca perde a pose.

 

Literatura não é só metonímia e metáfora, nunca foi.

Mas, solene, ela repete esse bordão.

Onde será que enfia os seus oxímoros, antíteses e paradoxos?

 

Literatura não é mesmo mentira, quem foi que disse?

Mentira é uma invenção cruel sobre uma pessoa, a fim de atingi-la

brutalmente.

 

Eu não leio com os olhos do passado.

Não desprezo pensadores porque são de outra universidade ou de repartições rivais.

Não desprezo gênios porque vendem livros.

Não desconsidero a teoria de compositores, vagabundos e bêbados.

Você ainda quer (mesmo) cada um no seu quadrado?

 

“Afã de cumprir o verso de Castro Alves que diz livros à mancheia.

Preciso ler, ler, ler.”

 

O rosto do menino no semáforo;

O corpo de mais um indígena morto;

E a manchete-mentira da mídia, financiada por assassinos e pastores.

 

Preciso ler, ler ler

A percussão no show de Criolo;

A letra pungente de Criolo, Criolo, CriOLO! Sua poesia-farpa.

 

O rastro-resíduo de Édouard Glissant;

O rótulo da lata de fermento em pó e o desenho da lata que imita a moça;

A crua beleza da menina, ônibus lotado, e o convite de seus olhos castanhos me avisando que nunca é tarde.

 

O velho livro de Eisenstein;

O dorso-grito de Camille Claudel;

A puta barata da esquina e o babaca do carro prateado com insulfilm.

 

Preciso ler, ler, ler

Mia Couto e Nelson Saúte;

Joan Brossa e Mãe Menininha.

 

O samba-rito de Noel;

O íman na geladeira;

As pastoras da Portela…

 

Não dou a mínima para a sua seleção!

 

“Estou sempre em movimento, buscando novas significações, novas florestas de sinais.”

 

Quem tem medo de Angel Rama?

 

“Cansei de ouvir abobrinhas

Vou consultar escarolas

Prefiro escutar salsinhas

Pedir socorro às papoulas

E às carambolas”

  

Que narrativa você quer inventar agora

e brincar de transformar em verdade?

Qual palavra quer manchar de sangue

e canonizar?

  

“O monumento não tem porta

A entrada é uma rua antiga

Estreita e torta

E no joelho uma criança

Sorridente, feia e morta

Estende a mão.”

 

Se não citar um grego, não vale.

Se Alcir Pécora não elogiou, não presta.

Se for da Bahia, ih, nem vem.

O seu Machado de Assis ainda é branco?

O que fez com o kit étnico-literário?

Quando mesmo resolveu assassinar a ironia?

Trechos de Leo Gonçalves, Waly Salomão, Itamar Assunpção e Caetano Veloso. 

 

 

 

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