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o ano chegou, descarnado e rubro,
nu inteiro
em sua substância.
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Procelária
Sophia de Mello Breyner Andresen
É vista quando há vento e grande vaga
Ela faz o ninho no rolar da fúria
E voa firme e certa como bala.
As suas asas empresta à tempestade
Quando os leões do mar rugem nas grutas
Sobre os abismos passa e vai em frente.
Ela não busca a rocha o cabo o cais
Mas faz da insegurança a sua força
E do risco de morrer seu alimento.
Por isso me parece a imagem justa
Para quem vive e canta no mau tempo.
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O raio de Iansã sou eu
Cegando o aço das armas de quem guerreia
E o vento de Iansã também sou eu
E Santa Bárbara é santa que me clareia.
A minha voz é o vento de maio
Cruzando os ares, os mares, o chão
Meu olhar tem a força do raio
que vem de dentro do meu coração.
O raio de Iansã sou eu
Cegando o aço das armas de quem guerreia
E o vento de Iansã também sou eu
E Santa Bárbara é santa que me clareia.
Eu não conheço rajada de vento
mais poderosa que a minha paixão
Quando o amor relampeia aqui dentro,
vira um corisco esse meu coração.
Eu sou a casa do raio e do vento
Por onde eu passo é zunido, é clarão
Porque Iansã, desde o meu nascimento,
tornou-se a dona do meu coração.
O raio de Iansã sou eu…
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Sem ela não se anda
Ela é a menina dos olhos de Oxum
Flecha que mira o Sol
Oyá de mim.
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Canção de Paulo César Pinheiro.
Imagens de Martha Faria e Menote Cordeiro.