Breve passeio em Tiradentes
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Minha mãe tem a doçura das águas…
Seus olhos: morada de muitos.
Suas mãos: segredo de cura.
Sua voz: canto de cunhã.
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Ir para Tiradentes, para sua casinha colorida, acolheu minha meninice, me devolveu a saúde, a voz, a inteireza do corpo.
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De manhã, café quentinho e pães diversos no cestinho, uma prosa que se estendia entre as chitas, as xícaras desenhadas e as artes de Gabi
[serelepe brinca-brincou, entre flama e íris, cactos e cetim.]
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À tarde, banquete, com toda a sua profusão de cheiros, ervas e temperos, uma beleza distante dos clichês gastronômicos de revistas, uma beleza assinada – folha de louro, raminho de manjericão – filha dos nossos ancestrais, como se séculos distintos coexistissem ali naquela mesa, no alimento que nutre os afetos e a conversa ritmada.
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Peteca estava lá, uma morena-gauguin de gargalhada solta. Seus olhos, também castanhos, balançam na ginga do mar, reconhecem sereias e suas afilhadas, mas desconfiam – catrumanos – dos homens, com seus egoísmos repetitivos e seus discursos vazios.
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Foi comigo Caê, seu sono e seus blues. O menino-girassol e suas sementes.