Olha-me pra estas crianças de vidro
cheias de água até às lágrimas
enchendo a cidade de estilhaços
procurando a vida
nos caixotes de lixo.
Olha-me estas crianças
transporte
animais de cargas sobre os dias
percorrendo a cidade até os bordos
carregam a morte sobre os ombros
despejam-se sobre o espaço
enchendo a cidade de estilhaços.
*
Chegas
eu digo sede as mãos
fico
bebendo do ar que respiras
a brevidade
assim as águas
a espera
o cansaço.
O risco na pele
acende a noite
enquanto a lua
(por ironia
ilumina o esgoto
anuncia o canto dos gatos)
De quantos partos se vive
para quantos partos se morre
um rito espera-se faca
na garganta da noite.
November Without Water e Trecho de Mukai, de Ana Paula Tavares. Poeta angolana, nascida em Huíla, em 1952.