A abolição da escravidão também foi se repetindo, ao longo de todo o século XIX, nas novas pátrias latino-americanas.
A repetição era a prova da sua impotência. Em 1821, Simón Bolívar declarou a morte da escravidão. Trinta anos depois, a defunta continuava gozando de boa saúde, e novas leis de abolição foram decretadas na Colômbia e na Venezuela.
Nos dia em que foi promulgada a constituição de 1830, os jornais do Uruguai publicavam ofertas como estas:
Vende-se muito barato um negro sapateiro.
Vende-se uma criada recém-parida, própria para ama.
Vende-se uma negra jovem, de dezessete anos, sem vícios.
Vende-se uma parda muito ladina para qualquer trabalho de fazenda, e um tacho grande.
Cinco anos antes, em 1825, havia sido promulgada a primeira lei uruguaia contra a venda de gente, que precisou ser repetida em 1842, 1846 e 1853.
O Brasil foi o último país das Américas e o penúltimo do mundo. Lá, houve escravidão legal até o final do século XIX. Depois também houve, mas ilegal, e continua havendo. Em 1888, o governo brasileiro mandou queimar toda a documentação existente sobre o assunto. Assim, o trabalho escravo foi oficialmente apagado da história pátria. Morreu sem ter existido, e existe apesar de ter morrido.
GALEANO, Eduardo. Espelhos. Uma história quase universal. Trad. Eric Nepomuceno. Porto Alegre: L&PM, 2008, p. 176-177.
Adoro Eduardo Galeano!
E estou lendo esse livro dele por indicação sua, Renata!