Para encerrar o primeiro semestre da Oficina de Redação do POLO Vestibulares (MG), publico aqui dois dos melhores textos sobre meio-ambiente.
Em sala, discutimos o bárbaro assassinato dos ambientalistas José Cláudio e Maria do Espírito Santo. Lemos duas notícias e assistimos aos vídeos em que José avisava sobre as constantes ameaças de morte. Discutimos a aprovação do Código Florestal e sua negativa repercussão internacional, com base em entrevistas concedidas por Marina Silva e Stephen Schwartzman. Exibi slides sobre o Xingu, com diversas fotos tiradas pela equipe do filme homônimo, que conta a saga dos irmãos Villas Boas, e trechos do belíssimo manifesto escrito pelo diretor Cao Hamburger. Assistimos também ao vídeo, assinado pelo Greempeace, sobre uma reunião feita no Parque do Xingu contra a construção da Usina de Belo Monte. Impossível publicar aqui todo esse material de embasamento e sensibilização. Coloco, então, os 2 enunciados (Grade Geral e Grade ENEM) para que vocês possam ter uma noção clara do resultado didático, algumas fotos e alguns links.
A) A partir da leitura dos textos destacados e de suas reflexões individuais, redija uma dissertação, de 20 a 25 linhas, em que EXPONHA SUA OPINIÃO a respeito das políticas ambientais no Brasil. Utilize o registro padrão da língua e estrutura argumentativa completa. Atribua um título ao seu texto.
B) Redija um texto dissertativo-argumentativo sobre o seguinte tema: O meio ambiente no Brasil – cuidados e desafios. Em sua abordagem, procure utilizar os conhecimentos adquiridos e as reflexões feitas ao longo de sua formação. Selecione e organize fatos, argumentos e opiniões. Apresente experiência ou proposta de intervenção adequada ao tema discutido. (30 linhas)
Bipolarização dos ideais
Bruna Fonseca Vieira
É inquestionável que o atual ritmo de crescimento econômico do Brasil sugere uma crescente demanda energética para o país. Tal cenário intensifica os embates entre a chamada bancada ruralista, composta por latifundiários – que constantemente envolvem seus interesses econômicos em decisões políticas – e a bancada ambientalista, que visa à redução da degradação da natureza. Sabe-se que em meio a tais batalhas, o problema ambiental toma maiores proporções e nos leva a pensar no futuro do meio ambiente brasileiro.
Há anos predomina a mentalidade arcaica que vê a proteção ambiental como sinônimo de prejuízos e estagnação econômica. Entretanto, está provado que o uso de técnicas de conservação do solo aliadas ao cultivo da terra aumenta consideravelmente a produtividade das áreas agrícolas. Outra mentalidade muito difundida é a de que a prática da agricultura é a principal responsável pela destruição do meio ambiente e que, por isso, deve ser freada. Porém o problema não é o pequeno produtor, mas os latifundiários que utilizam sua influência – muitas vezes com teor coronelista – para destruírem matas nativas e plantarem monoculturas. Infelizmente o problema se agrava ao passo que tais grandes proprietários de terras são parte dos representantes políticos que os brasileiros escolheram, o que dá a eles poderes para decidirem o futuro ambiental do Brasil.
A polêmica construção da Usina de Belo Monte no rio Xingu, por exemplo, vem sendo discutida há alguns anos e é considerada uma das maiores obras do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento). Contudo, pesquisas demonstram que em vista dos prejuízos ambientais e socioculturais que ela irá causar, sua produtividade energética torna-se pouco expressiva. Dessa forma, a solução não é deixar de investir em energia, mas criar centros de pesquisa de outras formas de energia que geram menor impacto, como a eólica e a solar, por exemplo.
Por isso, a relação paradoxal entre o homem e a natureza, na qual se destrói aquilo que é fundamental para nossa sobrevivência, deve ser substituída por uma cooperação mútua entre os que fazem da terra sua fonte de renda e os que lutam por sua conservação. Logo, a bipolarização de ideais fará parte do passado.
Sustentabilidade: o clichê necessário.
Pedro Rezende Tanajura
Não é fácil proteger o meio ambiente no Brasil, país em que os interesses econômicos imediatistas são tão privilegiados.
A concentração de terras remonta do período colonial, quando amplos poderes políticos eram conferidos às elites agroexportadoras. Infelizmente, a influência dos latifundiários atuais é tanta que a bancada ruralista do poder legislativo conseguiu com que fosse aprovado um Código Florestal que permite aumentar a área de destruição da cobertura vegetal em todos os ecossistemas brasileiros.
Até mesmo nos pontos mais racionais do novo Código, como a obrigatoriedade de se preservar margens de rios, topos e encostas de morros, a lei é permissiva a ponto de autorizar que certas culturas sejam feitas nessas áreas. A tese que a legislação atual é muito rigorosa e prejudica a produção é absurda, visto que ainda são usadas práticas medievais para o cultivo, a exemplo de queimadas pós-colheita e o alagamento como forma de irrigação.
Se não forem melhoradas as técnicas por comodidade ou por falta de investimentos, não se pode confiar que a máxima a terra em que tudo se planta dá revelará uma verdade eterna. Além disso, os múltiplos climas da nação se alterarão, o que prejudicará ainda mais a agricultura. Se, para maximizar os ganhos hoje, não se pensar a longo prazo, pode não haver ganho algum no amanhã. A sustentabilidade, lugar-comum nos discursos a favor da preservação do meio ambiente, é a chave para um possível futuro.
Blog do fime Xingu:
http://xinguofilme.blogspot.com/2010/07/inicio-das-filmagens-de-xingu.html
Documentário gravado na Aldeia Piaraçu, na Terra Indígena Capoto/Jarina:
http://www.youtube.com/watch?v=YgtC93oUfNU&playnext=1&list=PLF3C4079E56203395
Vídeos com o castanheiro José Claudio – líder extrativista assassinado brutalmente por defender o meio ambiente e emprestar sua voz e coragem à luta contra os madeireiros: