Faça-se do tempo livre alegoria para a mão que escreve. Todo o tempo é livre. Desobediente. Imperativo. Uma palavra de pedra sobre a mão, um pensamento obsessivo atravessando tudo…
[tudo arquitetura rochosa, tudo medo do ciúme.
Uma palavra dura de concreto armado, filha de uma pessoa tesa quer muito: quer brincar fora da página, multiplicar-se, dividir-se. Mas um olho rígido que assiste ao verbo já pronto no papel retifica à beça, obscurece o quanto pode para, na verdade, dar pistas claras de sua dor.
Frases sem artigos, repetição silábica sonora, recursos dos sentidos da rima: não sei fazer nada assim, embora o quisesse todo o dia toda noite toda hora toda madrugada momento manhã. Seria uma chuva de liberdade rosa-cabralina. Liberdade e rigor.
Por isso tardo a escrever. Por esse fosso laminado de impossibilidades. Pela esquisitice do meu pensamento: com muito adorno não serve, com muito cientificismo não presta.
Mas, metido à besta, de vez em quando ensaio. Ensaiar eu posso.
Robson, texto de 16/04/2003