18 de maio
Dia Nacional de Combate ao Abuso e Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes
A maioria dos molestadores sexuais de crianças tem a confiança das vítimas: são seus pais, padrastos ou parentes.
O objetivo do dia é mobilizar o governo e a sociedade
para combater essa forma cruel
de violação de direitos de meninas, meninos e jovens brasileiros.
Grave como a violência é o muro de silêncio que cerca essa situação,
construído pela indiferença da sociedade
e pela cultura da impunidade dos agressores,
o que se constitui em nova forma de violação às suas vítimas.
Calar as vítimas à força é, sem dúvida nenhuma, a intenção dos agressores
– ardilosos e insuspeitáveis(?)
As famílias precisam ficar atentas,
é muito comum o parente abusador desacreditar a vítima diante de todos.
Termos como louca, vagabunda e histérica são recorrentes
no vocabulário torpe e historicamente impune do agressor.
Há todo um empenho em torná-la uma pessoa menor,
que não merece o respeito e cuidado de ninguém.
Muitas crianças revelam os abusos sofridos nas brincadeiras,
nos desenhos e nas bonecas.
Olhos marcados e superexposição dos órgãos genitais
são marcas frequentes.
As famílias também devem ficar atentas
às mudanças bruscas de comportamento,
à apatia,
à dificuldade de se relacionar afetivamente.
Muitas vítimas confessam a vontade de desaparecer,
de ficar invisível e de morrer.
Muitas morrem simbolicamente todos os dias,
como num ritual de autopunição ou autopiedade,
como se calassem o silêncio,
a dor, o medo
e a repulsa.
Curiosamente,
ninguém as enxerga,
apenas o agressor
– cúmplice e doentio.
“eu fui vítima de abuso, refém do silêncio e do medo.
mas nunca senti vergonha de mim ou do meu corpo.
e nunca desacreditei no amor.
minhas tias são mulheres feias e tristes.
meu irmão parece um lobo cansado e ruidoso.
baba em frente à televisão.
seu rosto aceita bem a gosma de sua boca.
perto dos tios é um cordeiro
ou um ratinho de laboratório?
minha mãe é triste e singela.”
Yara, 23 anos
“Lembro do cheiro do protetor solar que ele usava. Não suporto senti-lo até hoje. Eu tinha 9 anos e treinava natação com ele. Ele passava a mão e o pênis no meu corpo, depois tremia, e eu achava que estava nervoso – não sabia que era uma ejaculação. Demorei a entender o que tinha acontecido, mas aquilo me afetou de várias maneiras. Já mais velha, via minhas amigas tendo todo tipo de experiência, mas eu não tinha coragem nem de beijar um menino – qualquer contato me deixava travada. Tive síndrome do pânico, tomo antidepressivos e tenho medo do escuro até hoje, porque em uma das vezes ele me molestou num quarto escuro. No ano passado, quando o reencontrei no fórum, senti um medo tão grande que não conseguia parar de chorar. Se eu dissesse que é um assunto resolvido, estaria mentindo. Acho que nunca vou superar. É como se fosse uma cicatriz na minha alma.”
Joanna Maranhão, nadadora (Recife-PE)
“O efeito da impunidade é o mais perverso possível
depois de tudo que a criança passou durante o processo,
de tudo que ela falou.
Normalmente isso acontece no silêncio,
quando chega à Justiça é porque alguém falou,
ou ela própria, e ela vê todo o destroço que causou.
Geralmente ela passa de vítima a ré,
ela é culpada porque falou, inventou, destruiu a família”,
afirma a psicanalista Sônia Proto,
que trabalhou na vara especializada
de crimes contra crianças e adolescentes,
em Recife.
Trecho da reportagem publicada na Carta Maior
http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=12951&editoria_id=5
Rena, parabéns pela brilhante colocação. Suas palavras são exatas, certeiras.