agosto 30, 2009

Hélio Oiticica, este homem-poliedro em estado de permanente intensidade, amalgamou cosa mentale e transe instintivo genital em que a obra espelha o paroxismo do prazer (teu amor eu guardo aqui), dança do intelecto e dilaceração dionisíaca, obsessiva ideia de fundar uma nova ORDEM  frente às categorias exauridas da arte e a indignação da rebeldia ética, a quase catatonia do Quase Cinema e o júbilo epifânico (reino do SUPRASENSORIAL)  do ÉDEN, num todo múltiplo, totalidade indivisível vida/obra. Oiticica foi movido pela legenda EXPERIMENTAR O EXPERIMENTAL, tensionou a si mesmo enquanto campo imanente de possibilidades SÍSMICAS e se metamorfoseou em vertigem, voragem, redemoinho. VÓRTEX. Na linha abaixo do Equador.

A fecundidade de HO deriva da tensão pendular transgressão/construtivismo.

Nova sensibilidade explodindo a velha sintaxe conformada/conformista.

Waly Salomão


agosto 19, 2009

Há dois anos ou mais assisti à uma aula

linda-densa-poética do professor Flávio de Castro,

e ele disse sobre como um verso e/ou um título

podem nos tocar/impactar…

Lembro-me que citou –  “trêmulo/comovido” – A lua no varal.

A sala? Gelada e insossa, não entendeu ou não se manifestou.

Num trejeito de corpo, ele driblou a situação e tocou a matéria…

Hoje deparei-me com um livro de Fiama Hasse Pais Brandão

que já se justifica pelo título; fiquei chapada…

Divido-o com você, professor.

Em cada pedra um voo imóvel.


agosto 18, 2009

Tudo vive em mim. Tudo se entranha

Na minha tumultuada vida. E por isso

Não te enganas, homem, meu irmão,

Quando dizes na noite, que só a mim me vejo.

Vendo-me a mim, a ti. E a esses que passam

Nas manhãs, carregados de medo, de pobreza,

O olhar aguado, todos eles em mim,

Porque o poeta é irmão do escondido das gentes.

Descobre além da aparência, é antes de tudo

LIVRE, e por isso conhece. Quando o poeta fala

Fala do seu quarto, não fala do palanque,

Não está no comício, não deseja riqueza

Não barganha, sabe que o ouro é sangue

Tem os olhos no espírito do homem

No possível infinito. Sabe de cada um

A própria fome. E porque é assim, eu te peço:

Escuta-me. Olha-me. Enquanto vive um poeta.

O homem está vivo.

Hilda Hilst




agosto 7, 2009

Agora é todo dia ancorar a caravela na enseada

Subir encosta acima até o cocoruto do pedregulho

E tirar chinfra com uns bons balaços-balanços de linguagem.

Por Waly Salomão