…acabo de rever Milk, a voz da igualdade. E fiquei dessa vez com a presença de Anita Bryant martelando na cabeça. (Da outra, a interpretação de Sean Penn me tomou de assalto!) Impressionantemente parecida com as pedagogas que conheço, semelhança do traço e do discurso, ou até mesmo do jeitinho antipático de ajeitar o cabelo, Anita representa absolutamente tudo o que abomino. E que ainda existe! Um conservadorismo pautado num Deus que não se mostra, que ninguém vê, mas que justifica toda e qualquer agressão e legitima perseguições e terror.
Quem vê esse Deus? Quem O escuta?
Quem são esses que se autorizam a falar em nome Dele?
O papa que vai à África pregar contra o uso da camisinha?
O evangélico que se recusa a dublar Sean Penn no papel gay?
O bispo que excomunga os médicos da garota de 9 anos – violentada pelo padrasto, grávida de gêmeos – e salva a alma do estuprador?
A professora de catecismo que chupa o padre domingo sim domingo não?
O pastor que rouba milhões de seus fiéis ou o que chuta a imagem de nossa Senhora?
A fiel que casa grávida pura e casta de branco na igreja pra titia ver ou a que rosna contra os pecadores depois de visitar sites pornôs?
O frei pedófilo que responde processo e é absolvido?
(…) muitos falam em nome de nosso Senhor e estão sempre prontos a atirar a primeira pedra.
O foco do filme está nos anos 70/80. Hoje o conservador estado de Iowa derrubou a lei estadual que proibia o casamento gay. (Já tem conservador querendo recorrer!) Estamos em abril de 2009. Crimes e espancamentos ainda são corriqueiros. A palavra veado ainda é ofensa nos campos de futebol. Os pais ainda expulsam filhos de suas casas ou os mandam a tratamento. Biólogos pesquisam e revelam a normalidade das manifestações homossexuais em animais, quase não se fala sobre. Bichinha sai daqui ainda é frase de efeito.
E as pedagogas continuam Anita Bryant, elas não desistem nunca!
Vi professores homossexuais serem perseguidos e ridicularizados. Vi coordenadoras sussurrarem a palavra lésbica com as mãos na boca, como se se protegessem do pecado. Acima do bem e do mal, elas optaram em separar um casal de garotas do primeiro ano. Uma deveria ficar na turma A, a outra, na H, para reforçar a distância entre as salas. Não as vi separar nenhum casal heterossexual, nem apoiar professores que foram agredidos por playboys insuspeitáveis, alguns filhos de juízes influentes. Vi pedagogas católicas rezarem o terço da mensalidade e lamberem os beiços. Para quem paga, tudo é permitido, ou quase tudo. Vi uma pedagoga-xuxa negociando cargos nos corredores e a outra com os olhos inchados de tanto chorar. Vi opressão por trás de muita mesa de diretoria, a caneta nas mãos, o brilho nos olhos e a força de uma assinatura! Vi muito professor cabisbaixo, calado, calado, calado, com medo até dos escaninhos. Vi uma pedagoga defender o ensino à distância em uma reunião e criticá-lo em outra, são circunstâncias, comentou sem culpa. Talvez as mesmas que a levaram a humilhar um aluno assumidamente gay de 16 anos na frente de toda a turma. Vi um supervisor de português criticar o prazer da leitura, e tropeçar na paródia. Ganhava para ensinar professores que sabiam muito mais do que ele, e não sentia vergonha. Certa vez gritou comigo, apenas porque fiz uma pergunta. Mais tarde soube que ele não sabia a resposta, por isso se aborreceu. Vaidoso de seu posto, bajulava pedagogas velhas, católicas e ensimesmadas, e marcava uma saidinha para mais tarde; sabia bem ganhar sua hora-aula. Vi um professor de biologia assediar um aluno e bradar contra os gays durante o recreio. Um de literatura se irritou com as piadinhas homofóbicas e nunca mais tomou café na escola. Outros dois foram demitidos porque escreveram textos homoeróticos em seus blogs. Não se sabe quem era o leitor assíduo.
Um aluno foi molestado no banheiro, demorou três anos para contar. Foi convidado a se retirar da escola, blasfemou contra o santo-padre-diretor, aquele que dá preferência aos menores de 12 anos.
oi!
realmente horrível…assino embaixo. você ficou sabendo da violência contra um aluno da moradia da UFMG, na hora até arrepiei, nunca tinha pensao nisso, homofobia na escola…parece que o mundo não evolui!
beijo
flávia