Ela em setembro, 22 de 2006.
Lenise Regina, sem data pra ser chuva
Colada a boca ao poema, não ouviu nada. Não ouviu som de palavra, nem de silêncio. Silêncio é o que tem dentro da pedra quando se quebra. Quando atirada em rio, a esmo, displicentemente. Trouxe o poema, folha dobrada embaixo do braço, depositou-o junto aos demais. Os poemas guardados na caixa traziam cifrados em si o mundo, apesar das tantas tentativas de desvelo impressas no papel. Um poema é de sentir e se não se sente é porque não há. Quando a mãe perguntava o que trazia na caixa respondia, “sentimentos”. “Como assim, sentimentos?” “Vontade dançar na chuva, de comer o cheiro morno do tijolo depois dela, de comer quiabo com angu em dia de frio, sentimentos, ora”.