gaia ciência
Por Flávio Boaventura
– disse a juriti: meu canto pertence a este chão
– disse a serpente: assanha que eu gosto
– disse o mico-preto: levita que eu sonho
– disse o tucano: o mais profundo é a leveza
– disse o pavão: belezas-acontecimentos
– disse a chuva: branduras leves como a água
– disse a terra: cunhar corações planetários
– disse o tempo: é para já
– disse o vento: pele porosa, sujeita a contatos
– disse a palavra: excitação integral
– disse a noite: batuquem os dias
– disse o dia: soprem as noites
– disse a lua: sem calendários fixos
– disse a árvore: desorientar/reorientar objetivos
– disse a criança: o vir a ser
– disse o velho: olhar para dentro, agir para fora – e vice-versa
– disse o sol: coreografia das cores
– disse a semente: desfazer linhas duras
– disse a alegria: fruição dos momentos
– disse a rã: algazarra enquanto grito de combate
– disse a cotia: brotar desvelamentos/revelações
– disse a cotovia: regar silêncios
– disse o beija-flor: todo cuidado é mira
– disse o bem-te-vi: todo gemido é açude
– disse o caracol: murmurar mitos vadios
– disse o jabuti: apressa-te devagar
– disse a cigarra: cantar é minha sina
– disse a formiga: trabalhar sonhos diários
– disse a aranha: a teia enquanto texto
– disse o indecifrável: a tela enquanto gozo
– disse o inapreensível: inventar deslocamentos/dribles
– disse o inefável: provocar/acolher diferenças
– disse o indizível: celebrar a poética cambiante da vida
– disse o inadiável: quero-quero…